quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Hipertrofia Muscular na ação Excêntrica ou Fase Negativa do movimento:

De acordo com FARTHING & CHILIBECK (2003) o treinamento em ações excêntricas é favorável a hipertrofia muscular, principalmente em ações de alta velocidade angular no equipamento isocinético. Para comprovar essa evidência foi realizado um experimento com 36 sujeitos para analisar o ganho de massa muscular do flexor do cotovelo nas velocidades 180°/s e 30º/s nas ações excêntricas e concêntricas. O treinamento foi dividido em duas fases. A primeira de ação excêntrica em ambas as velocidades (180º/s e 30º/s) durante 8 semanas, separado por 5 semanas de descanso com o intuito de inibir o efeito cruzado. A segunda fase foi realizada apenas ações concêntricas em ambas as velocidades no braço oposto da primeira fase de treinamento. O resultado do presente estudo demonstrou que o treinamento em ações excêntricas obteve um maior ganho de massa muscular do que o treinamento em ações concêntricas. No entanto um fator curioso foi que o treinamento excêntrico num regime de alta velocidade (180°/s), proporcionou o maior ganho de massa muscular comparado com ambos os grupos. O autor determina esse fato ao maior dano muscular, capacidade de geração de força e aumento da porcentagem da fibra tipo II. Em relação ao dano muscular BARROSO et al. (2005) comenta que o efeito do dano muscular é minimizado durante o treinamento físico . Tal efeito é denominado de “Repeated Bout Effect” ou Efeito de carga Repetida, que parece durar por até 9 meses. Esse efeito explica que o corpo produz uma proteção contra o dano muscular. O experimento para verificar esse efeito foi realizado em ações excêntricas, utilizando a creatina quinase (CK) como marcador bioquímico para o dano muscular. Os resultados demonstraram uma diminuição do nível desse marcador na mesma intensidade após a recuperação completa do tecido muscular.




Em relação à maior capacidade de geração de força nas ações excêntricas REEVES et al. (2010) analisa a relação da curva de força e velocidade. No presente estudo é comentado que o treinamento de força convencional subestima as ações excêntricas, pois a prescrição de carga para o treinamento é baseado nas fases positivas do movimento (concêntrica). Portanto, o objetivo do estudo foi comparar se o treino em ações excêntricas causa uma maior hipertrofia muscular comparado com o treinamento convencional (concêntrico/excêntrico). Após 14 semanas de treinamento o grupo que treinou no regime excêntrico obteve um maior aumento do comprimento do fascículo e do volume muscular comparado com o grupo de treino convencional, mas o aumento no ângulo de penação do fascículo foi maior no grupo de treino convencional. É de suma importância salientar que os sujeitos treinados nesse estudo foram idosos, podendo comprometer os resultados devidos a alterações metabólicas e estruturais em decorrência do envelhecimento. Os resultados mostram à importância de ambas as ações no treinamento convencional, devido às diferentes respostas adaptativas estruturais.


As adaptações fasciculares distintas em ambos os regimes de ação demonstra que ocorrem modificações estruturais diferenciadas para ambos os regimes de ação. O aumento no angulo de penação aumenta o número de sarcômeros em paralelo, possibilitando uma maior geração de força. Já o aumento do comprimento do fascículo incrementa a adição de sarcômero em série, favorecendo a velocidade de contração (BLAZEVICH et al., 2007 & REEVES et al., 2010). Segundo BLAZEVICHI et al. (2007) as adaptações temporais do ângulo do fascículo e comprimento são distintas. Concluindo que as vias de sinalização protéica e a genética são distintas para o ângulo de penação e hipertrofia muscular. Essa conclusão está baseada em seu experimento que avaliou as diferença do ganho de massa muscular dos extensores da coxa no equipamento isocinético na velocidade angular 30º/s, durante 10 semanas de treinamento e 14 semanas de destreinamento. Os resultados demonstraram não haver diferença no ganho de massa muscular. O fator curioso foi não haver diferenças no ângulo de penação e comprimento do fascículo em ambos os grupos. Tais fatos podem estar relacionados com a velocidade de treinamento, tempo de treinamento e as ações puramente concêntricas e excêntricas que são distintas do estudo de REEVES et al. (2010). Já o estudo de HIGBBIE et al. (1996) avaliou o ganho de massa muscular na equipamento isocinético na velocidade 60º/s. Os sujeitos divididos em dois grupos, sendo que um puramente concêntrico e o outro puramente excêntrico. O protocolo de treinamento foi de 3 vezes por semana com um total de 30 sessões de 3 séries de 10 repetições máximas com descanso de 3 minutos. Os resultados mostraram que o grupo que treinou em regime concêntrico adquiriu um aumento de 6,6% da massa muscular do quadríceps e o grupo concêntrico de 5.0%, avaliado por Imagem Ressonância Magnética (MRI). Mostrando novamente a superioridade da ação excêntrica em promover o anabolismo. No entanto, é importante salientar que o grupo de sujeito treinados consistiu apenas em mulheres, o que poderia ser um fator responsável pelo menor ganho de hipertrofia muscular.


No estudo de NORRBRAND et al. (2008) foi elaborados dois equipamentos baseados no treinamento para astronautas. O equipamento denominado de Flywheel (FW) exerce uma maior força externa na ação excêntrica do movimento. Já o equipamento Weight Stack (WS) subestima a força excêntrica. Os sujeitos forma divididos em dois grupos de treinamento que perdurou por 5 semanas. Nas semanas 1, 3 e 5 foram realizados dois treinos por semana. E nas semanas 2 e 4, foram realizados 3 treinos por semana de 4 séries de 7 repetições máximas. Os resultados demonstraram um aumento de 6,2% do volume muscular no equipamento FW comparado com o grupo WS que apresentou 3 % do aumento avaliados por Imagem de Ressonância Magnética (MRI). Esses achados corroboram com o comentário de Reeves et al. (2010) que o treinamento de força deve respeitar a relação da curva de força e velocidade. Determinando uma maior carga na ação excêntrica seguida de uma menor carga na ação concêntrica.


Em relação ao aumento da porcentagem da fibra tipo II comentado por FARTHING & CHILIBECK (2003). O trabalho de VIKNE et al. (2006), avaliou 17 sujeitos treinados durante 16 semanas de treinamento. A musculatura avaliada foi o flexor do cotovelo, a prescrição da carga de treino foi baseado no 1 RM e na maior carga levantada de 4 a 8 repetições. O presente estudo demonstrou que após a 29 sessões de treinamento o grupo excêntrico aumentou a proporção da fibra IIA, cerca de 2.8 vezes mais que a tipo I. A área relativa ocupada pela fibra tipo IIA era menor para o grupo excêntrico comparada com o concêntrico. No entanto após o período de treinamento essa proporção aumentou e a tipo I diminuiu cerca de 9%. Em relação à hipertrofia relativa o grupo excêntrico mostrou um aumento de 10-12%. O grupo concêntrico mostrou uma diferença não significativa de 2-4%. . Essas evidências são esperadas, pois sabe-se que o treinamento resistido provoca transformações da fibra Tipo IIX(B) para Tipo IIA em sujeitos não treinados. Os sujeitos avaliados no presente estudo apresentavam pouco da fibra tipo IIX (B) (2%) e da fibra tipo IIA/X (8%), talvez essa fato tenha acontecido devido ao seu estado de treinamento específico. O importante a ser avaliado foi que a proporção da fibra tipo IIA na fibra muscular aumentou de 64% para 73% no grupo excêntrico. Esses resultados sugerem que o treinamento excêntrico promove uma melhor resposta hipertrofia devido as altas cargas de treinamento desse regime de ação muscular, podendo também influenciar na maior conversão de fibras tipo I para Tipo IIA. No grupo concêntrico houve uma diminuição significativa da fibra tipo IIA.


No estudo de FRIEDMANN-BETTE et al. (2010) foi demonstrado um aumento da área de seção transversa do quadríceps em ambos os grupo de treinamento CON/ECC e CON/ECC+. O grupo que treinou com uma maior carga excêntrica (CON/ECC+) apresentou um aumento na fibra tipo IIX. Consequentemente por uma maior utilização das cadeias pesadas de miosina IIX (MHCIIX). O aumento do percentual da fibra tipo IIX no grupo excêntrico, demonstrando uma adaptação contraria frente ao treinamento convencional de força, onde existe a interconversão das Cadeias Pesadas de Miosina (MCH) da IIX para IIA (IDE et al., 2010). Esses resultados devem ser avaliados com cautela, pois o examinador avaliou atletas com característica de potência muscular que pode interferir no resultado final, devido ao fenótipo. Surpreendentemente o grupo CON/ECC+ apresentou uma melhora no salto vertical em comparação CON/ECC. Tal fato pode sugerir uma melhora do salto decorrente da adaptação morfológicas das fibras de características rápidas ou pelo fato do treinamento em ações excêntricas desenvolver uma melhor resposta do ciclo de alongamento e encurtamento, interferindo diretamente no salto.


Para FRIEDMANN-BETTE et al. (2010) a maior resposta hipertrófica da ação excêntrica pode ocorrer devido ao aumento do IGF-1 e consequentemente do MGF (mechano-growth factor) que é um importante ativador do mTOR, mas o presente estudo não demonstrou alteração do IGF-1. O receptor de andrógeno (AR) do RNAm pode ser um fator importante no ganho de massa muscular mostrado no grupo que treinou com maiores cargas excêntricas, devido a diversos estudos mostrarem alterações nesse receptor após treinamento de força e consequentemente com o maior aumento da FCSA (Área de Secção Transversa Fisiológica) IIX e IIA, mas o presente estudo não avaliou a expressão do AR. O presente estudo demonstrou um aumento do HGF e do MHCneo no grupo CON/ECC+ (maior carga excêntrica), sendo esse fatores importantes para regeneração do tecido e ativação das células satélites (FRIEDMANN-BETTE et al., 2010; FOSCHINI, et al., 2004; KARAGOUNIS & HAWLEY, 2010).


Em relacionado aos marcadores de expressão genética o estudo de KOSTEK et al. (2007) avaliou 5 sujeitos saudáveis, que foram submetidos a uma analise temporal aguda onde realizaram exercícios concêntrico numa perna e simultaneamente na outra perna ações excêntricas. Foi realizada a biopsia antes e após 3, 6 e 24 horas do treinamento. Foram identificadas 51 transcrições moleculares (35 trancritos de upregulation e 16 transcritos de downregulation), para os dois modos de contração. Após usar um agrupamento hierárquico foram identificados 4 grupos distintos, dos quais 3 grupos correspondem a uma única categoria funcional (síntese protéica, resposta ao estresse e inicio do crescimento e estrutura do sarcolema). Nas ações excêntricas houve um aumento na SIX1 de 1.9 vezes após 3 horas comparadas com a concêntrica, na CRSP3 de 2, 9 vezes após 6 horas e MUSTIN de 4.5 vezes após 24 horas. Uma outra alteração importante ocorreu nos reguladores de degradação muscular , o FBOX32/atrogonin- 1MAFBX que sofreram uma down regulation. Após 3 horas a redução foi de 2,7 vezes, após 6 horas de 3,3 vezes e após 24 horas de 2, 3 vezes.


Na verdade, SIX1 tem sido implicado na mudança do tipo de fibra a partir do fenótipo lento para rápida, o que poderia corroborar com o achados de FRIEDMANN-BETTE et al. (2010), VIKNE et al. (2006) e FARTHING & CHILIBECK (2003). A CSRP3 se acredita ser importante na reparação de danos musculares podendo influenciar diretamente na ativação e proliferação das células satélites (FOSCHINI, et al., 2004; FRIEDMANN-BETTE et al., 2010).


A função de MUSTN1 é desconhecida no músculo esquelético. Acredita-se que sua funçaõ esteja relacionada com o aumeto do colágeno e de protinas miofibrilares no tendão e musculos apos o exercicio resitido. No entanto é necessário mais estudoss que analisem o verdadeiro papel da MUSTN 1 (FRIEDMANN-BETTE, et al., 2010).


Em relação ao dano muscular o estudo de PIITULAINEN et al. (2010) compararam o grau do dano muscular da ação excêntrica vc a concêntrica a partir de analise de EMG, MVC e a escala de dor, amostra de sangue e temperatura corporal. O estudo foi dividido em três sessões primarias de mensuração. A primeira depois do exercício, a segunda imediatamente após o exercício (<15min) e a terceira duas horas após a atividade. O protocole de treino foi de 3 séries de 20 repetições na velocidade angular de 120°/s.Os resultados de monstraram que o treino excêntrico causou um mair dano imediato e tardio a musculatura avaliada. No entanto, vale ressaltar que o treino em alta velocidade de execução permite a ação excêntrica gerar mais força e consequentemente diminui a força gerada pela ação concêntrica , devido a relação da curva de força e velocidade (ENOCKA, 1996 & REEVES et al., 2010; VIKNE et al., 2006).


De acordo com ROIG et al. (2009), o treinamento em ações excêntricas propicia um maior aumento da massa muscular e da força em comparação com treino concêntrico podendo causar melhorias na força total em indivíduos saudáveis, promovendo um aumento da massa muscular e da força mais acentuado, possivelmente pela alta capacidade de suportar maiores cargas absolutas de treinamento. É importante avaliar quais foram os métodos de analise para avaliar a hipertrofia muscular e o método de treinamento para não haver interferência no resultado final.


A problemática do treino em ações excêntricas é que o ganho de força é especifico para o modo de contração treinado, sendo essa uma adaptação neural do movimento, dificultando a transferência desse ganho para outras ações musculares. As modalidades esportivas consistem em ações dinâmicas de ambas os regimes de ação. Portanto é de suma importância que o treinamento seja prescrito com a superestimação de ambas as ações musculares (REVEES et al., 2010; ROIG et al., 2009).

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